quarta-feira, 19 de março de 2014

Estampido recebe Daiani Brum da ONG Esparatrapo

Nos dias 10 a 19 de Abril, esteve conosco do Estampido a palhaça Brum da ONG Esparatrapo de São Paulo, que tem um projeto de circulação pelo nordeste para trocas de experiências, intercâmbios culturais com outras ONG's que trabalhem com arte humanizadora. Em destaque um post da mesma no site da Esparatrapo:

ESPERANÇA DO VERBO ESPERANÇAR

É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar.
E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…” (Paulo Freire)

O inesquecível pernambucano Paulo Freire nos alertou sobre os perigos da esperança do verbo esperar. Esperar que a violência acabe, esperar que comportamentos inadequados da sociedade se modifiquem, esperar que o mundo seja mais humano, esperar que haja justiça social. Mas e eu, o que eu FAÇO para que as transformações aconteçam? Qual é minha obra neste mundo? De que maneira exerço influência sobre ele?
Acredito mais do que nunca que “Juntos somos mais fortes”.  Brega? Chavão? Pode até ser, mas o fato é que a capacidade de cooperação do ser humano foi responsável pela sobrevivência e desenvolvimento da espécie. Não podemos viver sozinhos, nunca pudemos e, me corrija se estiver errada nem poderemos. Diversos são os exemplos implícitos no nosso cotidiano sobre este fato. Vivemos em um momento onde é cada vez mais fácil e rápido conectar-se á alguém ou á um grupo de pessoas com interesses em comum. Juntar-se para desenvolver, ter esperança e esperançar um novo mundo possível, liberto das amarras que nos prendem.
O Projeto Missão Quebra-Queixo: Palhaça Brum vai ao Nordeste consiste na união de esperanças em comum, de esperanças que não esperam, que levam á diante, que juntam-se com outras para fazer a diferença. Consiste ainda na confiança no potencial de cooperação do ser humano, nas trocas simultâneas de conhecimento e vivências, na bondade, na gentileza.
No dia 14 de dezembro completamos três meses de estrada, a mala e eu. Três meses que não temos residência fixa, que moramos na casa de um e outro com esperanças em comum.
Sim, “Juntos somos mais fortes”.
Só o que tenho encontrado por estas bandas nordestinas são pessoas que não esperam o mundo mudar por si só. Tenho encontrado para além de artistas, lutadores sociais consciêntes de seu potencial transformador, pessoas que não tem medo de se unir e balançar a ordem “natural” das coisas.
Ao chegar em Imperatriz (MA), não conhecia sequer uma pessoa pessoalmente. Ao sair, tive a certeza de ter feito amigos, cooperadores e parceiros para o resto da vida. Tantas foram as oportunidades de troca em espaços formativos e mesmo de convivência com seres humanos tão esperançosos quanto, que ali me deixei ficar até depois do carnaval. Cheguei para ficar uma semana e fiquei 20 dias. Tenho certeza que muitas sementes foram semeadas neste período, e que em breve estarão florescendo.

 
Ao chegar em Teresina, a mesma situação, não conhecia ninguém pessoalmente. E hoje (escrevo estas palavras um dia antes de partir para o Ceará), minha vontade é de ficar, confesso.
Aqui encontrei muita gente esperançando, cooperando. Tive a felicidade de encontrar almas com desejos que extrapolam os limites da espera.
Junto ao Projeto Estampido realizamos duas oficinas, uma específica para a ONG e outra aberta para a comunidade, totalizando 65 inscritos. Também realizamos reuniões de planejamento, atuação no Hospital da Criança, visita ao Abrigo de Idosos e uma apresentação do Espetáculo CABRUM. Partirei daqui muito feliz e com certeza de que um dia voltarei, ainda mais feliz, por que “uma andorinha só não faz verão”.
Gostaria de finalizar estas palavras com uma passagem do livro Não se desespere, do filósofo Mário Sérgio Cortella, que retrata exatamente meu sentimento após esta jornada de três meses:
“ -É preciso ter esperança. Mas tem de ser esperança do verbo esperançar.
Por que isto?  Por que tem gente que tem esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. “Ah, eu espero que melhore, que funcione, que resolva”. Já esperançar é ir atrás, é se juntar, não desistir. É ser capaz de recusar aquilo que apodrece a nossa capacidade de integridade e a nossa fé ativa nas obras. Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída. Por isso é muito diferente de esperar, temos mesmo é de esperançar!”

Fonte: http://www.esparatrapo.org.br/2014/esperanca-do-verbo-esperancar/